terça-feira, 30 de novembro de 2010

Onde a cólera?

Interessante como Raduan Nassar escreve em Um copo de cólera, seus parágrafos longos, os diálogos entre aspas no meio dos períodos repletos de pensamentos do protagonista, com seus c'oas, c'um, incomuns.
Não terminei a leitura, mas até aqui, parece-me inverosímel que numa discussão se usem os termos do livro.
Trata-se de uma jornalista e de um canalha letrado, sei, mas tais personalidades não brigariam em bom e baixo nível e alto e bom som como os demais mortais?
Ando me perdendo no raciocínio e linguagem intrincados desse homem que tenta controlar, sem muito sucesso, o fio da sua cólera.
Resta pedir ajuda a literata da família: Lucinha, socorro!

2 comentários:

Luka disse...

fiquei com vontade de ler agora mesmo

Lucinha disse...

Égua publicando meu nome... E ainda com má fama de literata. Literato é um adjetivo que combina com monóculo, gravata borboleta e cara ranzinza. Não uso monóculo, nem gravata borboleta ... Será que tô virando ranzinza? Hehehe

Mas que massa vc lendo um Copo de Cólera. Li faz taaaaanto tempo.
Raduan tem uma narrativa que desliza para a poesia, o que meio que quer dizer: tornar o trabalho em cima da linguagem mais visível, o que tem tudo a ver com essa resistência que você sente do texto se dar a ler numa boa (apesar dessa resistência à leitura não ser regra na poesia, tá?). Melhor dizendo, o texto do Raduan coloca a feitura à mostra. E quando isso acontece o próprio caráter de ficcionalidade do que está escrito também fica mais evidente. Por exemplo, quando se lê um Machado ou um Eça, a gente se convence totalmente daquilo que é contado e é levado pela leveza da linguagem a esquecer que ela está ali. A linguagem é quase transparente. Meio que a linguagem funciona como uma veículo de uma verdade que está sendo contada. Por isso, esses autores, dentro da escolinha são colocados numa Escola chamada de Realista (lembra? a gente vê isso no colégio).
Talvez a linguagem ondulosa do Raduan, a que vc se referiu, tenha a ver com o incômodo "mas ninguém discute assim". Não discute, mas poderia, mas poderia ... Mais que um jeitinho bonito de mostrar a realidade, a literatura, a arte, pode ser pensada como uma possibilidade de realidade. Como os romances do Eça e do Machado são possibilidades de realidade. O divertido pensar que os girassóis do Van Gogh são possibilidade de girassol. Ou até um quadro daqueles abstratos é uma possibilidade de visão. Ou que uma fotografia não é um registro mais uma possibilidade de realidade, de olhar. Que o balé não é uma dança, mas uma possibilidade de movimento, uma possibilidade de corpo.
Espero que sirva pra alguma coisa pra vc tb. Nem que seja saber que sua caçula endoidou de vez, hahahaha.

Beijo