segunda-feira, 17 de junho de 2013

Fragmentos (I)

Acho que, a partir da morte de meu pai, me via como vítima, carregando um estigma de sofrimento. E essa visão distorcida também se estendia às pessoas que compartilharam comigo essas dores: minhas irmãs, minha mãe, meu marido. Acreditava que tais sofrimentos me tornavam melhor e mais forte que as pessoas que não vivenciaram perdas e traumas iguais aos meus. Pura ilusão. Eu sou tão frágil e tão forte quanto qualquer pessoa pode ser em determinado momento da vida.
Hoje eu sei que não sou apenas a órfã de pai assassinado, aquela que tentou prover em lugar do pai, a filha de mãe esquizofrênica, a mãe de um filho morto no ventre. Eu sei, isso tudo junto assusta e me assustou.
Eram essas as cores com que eu me definia. Que maneira mais triste de se ver, não? Nenhuma alegria ou conquista era suficiente para colorir essa pessoa. Tudo isso faz parte da minha história, e é claro que faz parte do que eu sou hoje, mas não me define.