terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Só para ouvir

- Tu me ama?
- Bem muitão! - quando de bom humor.
- Não sei. Deixa eu pensar. - quando quer brincar.
- Sim. - quando cercado de colegas de trabalho ou de mau humor.
Eu sei. Mesmo que às vezes eu finja ter esquecido ou diga não acreditar, eu sei.
Pergunto porque é tão bom ouvir.
Pergunto para te ouvir dizer pra mim aquilo que eu já sei.

Para Eduardo, amor da vida inteira.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal

Conversa entre a marcianinha e a mãe da terraquiazinha:
- O que é esse Natal? Porque tanta festa e presentes?
- Bom, acontece que a muitos anos nasceu um menino especial. Ele veio ao mundo com uma missão.
- Mas todos aqui não tem uma missão? Quase todos estudam, trabalham, cuidam dos filhos e netos, dos pais, ensinam, fazem amigos, alguns até ajudam pessoas que nem são de suas famílias.
- Sim, mas a missão Dele era diferente. Ele veio para salvar a todos.
- Salvar? De que? De quem?
- Ai, ai, salvar a alma.
- Mas a alma estava em perigo?
- Sim, perigo de ser vazia, de não ter na terra uma vida digna, de não conhecer a caridade, a fraternidade, o amor.  É isso! Ele veio ensinar o que é o amor de verdade.
- Então a festa?
- É para comemorar o nascimento Desse Menino que se chama Jesus.
- Ah entendi! E os presentes? Eles são para vocês e não para o Menino Jesus, não é mesmo?
- É verdade. Mas isso começou de um jeito e hoje é de outro. Tem muitas pessoas que ganham muito mais em datas festivas. É o que chamamos aqui na terra de comércio.
- E esse senhor gordo com roupa vermelha? Quem é, algum parente de Jesus?
- Não, não. Acho que ele surgiu inspirado em um homem bom que ajudava as pessoas pobres e tinha atenção especial pelas crianças. Depois de muitas mudanças na forma como era representado, chegou-se ao que conhecemos hoje.
- Ah sim! Mas se o Natal foi criado por causa de Jesus porque muitas pessoas não se lembram Dele nem do amor que Ele ensinou?
- Bem, algumas pessoas não acreditam que Jesus foi assim tão especial, para muitos outros a festa e os presentes se tornaram mais importantes. Outras negam o Natal por ser celebrado pelos cristãos católicos.
- E quando se diz "Feliz Natal", o que significa?
- Acho que, no geral, as pessoas querem desejar saúde, paz, amor, e uma festa boa e farta junto das pessoas amadas.
- Então Feliz Natal!

"Nós sabemos que se celebra o acontecimento central da história: a Encarnação do Verbo divino para a redenção da humanidade. O sentido eterno do mundo se fez tangível a nossos sentidos e à nossa inteligência: agora podemos tocá-lo e contemplá-lo, e esse sentido não é simplesmente uma idéia geral inscrita no mundo, é uma Pessoa que se interessa por cada um de nós. Na gruta de Belém, Deus se mostra a nós como humilde ‘infante’ para vencer nossa soberba. Talvez tivéssemos nos rendido mais facilmente frente ao poder, frente à sabedoria; mas Ele não quer nossa rendição; apela mais ao nosso coração e à nossa decisão livre de aceitar seu amor." palavras do Papa Bento XVI

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Capela

Muito tempo faz ela sonhou construir uma capela em frente a casa do sítio.
Falou com os vizinhos e amigos, se era pra todos, nada mais natural do que contar com a ajuda de todos.
Um gaiato veio de lá dizer que o dinheiro era para criar os filhos.
- Pois destá, agora só termino a capela depois que meus filhos estiverem crescidos.
E assim fez. Até pouco, eram só tijolos.
Hoje, coisa de quarenta anos depois, os filhos criados, já todos pais e uma até avó, ela retomou o sonho.
Terminou a capela sem ajuda de seu ninguém.
Semana destas foi a missa de inauguração. Veio gente de toda parte: os parentes do Icó, comadres e compadres dos sítios vizinhos - do Bebedouro, do Mari, das Cajazeiras, do Alto -, D.Ana de Zé Pequeno e os seus, os primos Vicente e Chico e suas famílias.
Ficou um pouco triste, minha sogra, porque dois filhos não puderam viajar para a missa, e porque seu querido José Costa não está mais aqui para partilhar com ela esta conquista.
A missa festiva em homenagem a santa de devoção já está marcada, setembro de 2010.
E nós aqui contando os dias para irmos rezar na capela de D.Nazaré.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dois minutos de chuva

Chuva forte, chuva de verão.
Fomos até a janela.
Não é comum chuvas nesta época do ano.
Bom sinal, sinal de que o calor vai ceder um pouquinho.
Não durou dois minutos.
O sol já está ali, seus raios por entre as nuvens carregadas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Fugir

As sessões são sempre difíceis.
Hora de relembrar.
Me peguei de novo querendo fugir.
Ser outra pessoa, livre dessas minhas experiências e das perdas e dos traumas que elas deixaram.
Sem esse peso que me aflige ao trazer do passado essas lembranças, da tristeza de sabê-las minhas.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Classe média

- Você é classe média, não pode ser a favor deste governo porque ele ferrou a classe média.
Então eu não posso defender direitos outros que não os meus próprios?
Não posso apreciar ações que beneficiem outros que não a mim mesma?
Não posso aceitar perder para que alguém mais ganhe?
- A classe média sempre paga. Com esse governo então.
Sai do nosso bolso, dos impostos excessivos que pagamos, a ajuda do governo aos pobres, o salário-família.
É, sai do meu bolso. Se os impostos fossem reduzidos, ou se esse dinheiro fosse em meu benefício direto, eu poderia ter mais de um carro, um apartamento maior e poderia viajar mais, conhecer a Europa.
Como somos egoístas não?
E ainda vem um me dizer que o certo é isso mesmo.
Cada um por si.
Melhor seria se esse tal dinheiro do meu bolso, quatro meses do meu salário, fosse usado sempre e totalmente para o fim a que se destina, com probidade e eficiência.
E eu não precisaria adicionalmente pagar por saúde e educação.
É, eu quero ser primeiro mundo aqui mesmo, neste país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Impossível

O menino está impossível.
Não anda, corre.
Não para.
Sobe em tudo.
Em tudo mexe.
Arrasta o tapete da loja.
Dança se olhando no espelho.
Joga o brinquedo no vidro.
Sobe na cadeira.
Deita no chão, no meio do shopping, pra brincar com os carrinhos novos.
E não anda, corre.
Não quer segurar na mão.
Quer entrar no presépio, pegar nos carneirinhos.
Puxa as cordas de proteção.
Não para nem pra comer, pega o pão de queijo e corre.
Está impossível o menino.
Acorda o bêbe que dormia no carrinho.
Na loja de brinquedos, pega, quer abrir.
Chora quando o vendedor leva para registrar a compra.
- Neusa, tem que começar a botar limite nesse menino.
- É, eu sei.
Por enquanto é um bêbe. Já, já cresce e vai ser chamado de mal educado.
E quem educa, bem ou mal, somos nós, os pais.
É porque está impossível esse menino.
Mas tudo é novidade, tudo é interessante, tudo ele quer ver, pegar, experimentar.
Benza Deus!
Mas que está impossível está.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Carrinho querido

Inventei.
Fui andando.
Sandália alta de plataforma.
As calçadas. Não tinha reparado como são irregulares. Pisei em falso, quase torço o pé.
O sol quente das onze horas da manhã. Não tinha reparado como é quente o sol dessa hora do dia.
Criatura com cara de poucos amigos. Fumando. Passei por ele.
Epa, agora ele olha pra mim. Viche!
Olho para trás. Ele sumiu. Tomara que tenha virado a esquina.
Não era nesse quarteirão?
Vou andando. Devo estar perto, se não é nesse, no próximo.
Meu dedinho está apertado. Não tinha reparado que a sandália aperta meus dedos.
O vento alivia o calor. Mas os cabelos, tenho que ajeitar as fivelas, tirar os  fios do rosto para poder enxergar.
Não chega nunca. Já passei o supermercado, a loja de motos, a loja de móveis de bambu, o restaurante, outro restaurante, a clínica.
Vou andando.
Não devo estar longe.
Meus pés doem, está muito quente, não sei mais quanto falta pra chegar.
Desisto e volto.
Não tinha reparado porque no carro é sempre fresquinho, de carro tudo é bem pertinho, e qualquer sapato é confortável.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ui um bicho!

Começei a tirar a sujeira que tinha varrido pra debaixo do tapete.
Estão aparecendo coisas que eu nem imaginava.
Estou com medo do que pode sair de lá.

Parcialidade

Jornalismo e imparcialidade. Será possível?
Durante muitos anos li uma determinada revista, era assinante.
Deixei de assinar e passei a receber em casa e gratuitamente outra revista. Não sei porque, nem até quando.
A comparação é inevitável. O que uma tem de contrária ao governo Lula, a outra tem a favor.
Os pontos de vista são diametralmente opostos.
Interessante ver as argumentações que levam às conclusões divergentes.
Quais são válidas, verdadeiras? Cabe essa discussão?
Estamos falando de pontos de vista, eu tenho um, você tem outro, qual deles é correto?
Ética?
Os fatos e números é que não devem ser manipulados para se chegar ao fim desejado.
Mas é inevitável, haverá omissão, subestimação ou superestimação de fatos de forma a embasar a opinião defendida.
Desconfio do sempre contra ou sempre a favor.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Brincar é muito bom, na praia é melhor ainda


Culpado

É você quem acorda a avó de manhã muito cedo.
E procura por ela quando está em apuros ou com medo.
Que recebe muitos beijos e carinhos, e fica, vez por outra, bem quietinho em seu colo quente e aconchegante.
- Neusa, eu não tenho mais depressão.
   Agora eu acordo feliz, com vontade de viver.
     E o culpado disso é o Davi.
Amor de neto. Amor de avó. Transformador.
Filho querido, a culpa da sua avó ter voltado a ser feliz é sua.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Assunto reinante

Doença é coisa chata, ruim mesmo.
Mas notem que com o passar dos anos o assunto reina sempre - saúde, ou melhor, doenças.
Outro dia, nos corredores da empresa, encontro um colega, que me viu comendo um pão de queijo, e o assunto?
- Bom ser magrinha e poder comer de tudo.
- Ih amigo, não é não, eu sou diabética. Me ver comendo um pãozinho é raro. Dieta rígida.
E conversa vai, conversa vem, exames que ele fez, resultados dos tais exames, e dietas, atividade física.
Incrível, alguns anos atrás conversar sobre saúde, ou melhor, doenças, não seria algo tão natural.
E interessante também como relacionam boa forma física à saúde.
A bem da verdade, este ano já tive tantas viroses, nem sei quantas.
Essa doença que nos deixa em petição de miséria para a qual o tratamento é amenizar os sintomas e esperar.
Espera que dá nos nervos.
Mas aí já entramos em outro ramo de doenças, as psiquiátricas ou psicológicas. Conversa que fica para outra oportunidade.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tossiu

O menino acorda chorando.
E tosse, tosse.
Meus Deus, que é que tem o menino?
- Está engasgado? Bota pra fora, meu filho.
E tosse, e chora, o choro agoniado, depois choro bocejo, depois choro soluçinho.
- Pronto, passou, passou, xiiiii.
E dorme, no colo do pai a cantar.

Meu kit sobrevivência


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Je t'aime beacup



Pensamentos

Tantos pensamentos
Há sempre um mais profundo
em seu pé de meia facundo

Não vejo em nosso blog-mundo
outro mais fecundo

Não fica moribundo
sempre alguém se lembrará
do pensamento
que mesmo quando iracundo
não ofende raimundo
que lê o pensamento
e a ele volta a cada segundo
porque é profundo

E quando improfundo
esse pensamento do pé de meia
faz-me rir

Poemazinho em homenagem aos pensamentos profundos que mfc guarda em seu Pé de meia.

Canoa furada

- Ai que o barco está à deriva!
- Deixa de exagero, saiu um pouquinho só do curso.
- Está afundando!
- Que nada, alguns buracos. É só tapar, tirar a água que se acumulou no fundo e seguir viagem.
- Não vou conseguir!
- Respira fundo, clareia as ideias, e mãos à obra.
- Tenho medo!
- Filha, confia em mim, vai dar certo. E tem mais, não é barco, é canoa.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Siris na lata


Ele

Estava tranquila, segura.
Ele chega, vira tudo de cabeça pra baixo.
Nem um dia igual ao outro.
Num dia bem, noutro se altera, passa dos limites, me assusta.
Por vezes me faz suar, tremer, chorar, não consigo raciocinar.
Doutras me deixa sonolenta, sem energia.
Estou sempre pensando nele: nas refeições, na natação, na hora de dormir, na hora de f...
Por ele alterei minha rotina, meus hábitos, meus gostos.
Foi ele, o diabetes, que mudou completamente a minha vida.
E é parte de mim agora, e para sempre.
E você pensou que eu falava de quê?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A pé ou de carro?

Preciso ir à farmácia, comprar umas coisinhas pro menino, é aqui pertinho de casa, três quarteirões.
Mas é domingo, a rua está deserta. E os malandros a solta.
Mas pegar o carro para ir bem ali.
Vou andando mesmo e seja o que Deus quiser.
Levo só o cartão e um dinheirinho e o celular.
E se o cara me rouba o celular?
Mas vai que preciso falar com alguém. Vai que me assaltam e preciso ligar pro Eduardo.
Mas aí o meliante levou o celular.
Ah! Quer saber? Vou levar a carteira e o celular.
Como diz a nossa babá, domingo os abençoados estão de cara cheia.
Perigoso é sexta-feira, que é o dia de fazer a féria pro final de semana.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Música para situar

Suas músicas conseguem me fixar, me situar.
É da terra, é do sertão, é do nordeste, é do Brasil, mas é do mundo.
Cantadas pela voz rouca, cavernosa até.
Palavras e ideias, instrumentos e ritmos, tudo perfeitamente ajuntado.
Dizem do que foi, é e será.
Zé Ramalho das muitas influências e misturas.
De um tempo atemporal, do lugar universal, da nossa cultura e multicultural.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Moedinha

No sinal, perto de casa, na ida para o trabalho, ele diz baixinho, perto do vidro semiaberto:
- Moedinha!
Abro mais o vidro, olho bem pra ele.
Conheço sua carinha, cabelo duro de sujeira, pele queimada do sol, sem blusa.
- E a escola? É de manhã?
É claro que ele responde que é. Pergunta feita da forma errada se eu queria mesmo saber se ele está indo à escola.
Estava lá com a mãe e os primos, dois primos.
Devia estar brincando, estudando.
E tem 6 anos e sabe ler. -Sabe mesmo? Olha! E sorrimos juntos.
Dei a moedinha e saí.
Devia sair sem dar a esmola?
Será que se assim fizessémos eu e todos os outros motoristas no sinal, ela o deixaria em casa, estudando e brincando, como deveria ser?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Valor das coisas

De dentro do meu carro novo, janelas abertas pra sentir o vento, bolsa - com celular, ipod, dinheiro, cartão - no chão, o som tocando as músicas preferidas.
Olho o cara maltrapilho, magro, com fome, com sede, alcoolizado, desiludido, sem nenhuma expectativa, a espera do dia seguinte, de uma esmola melhor, de outro copo de cana, de um canto de esquina para dormir.
E eu, cristã, me compadeço, mas sigo em frente.
Sigo em frente, possuindo, desejando, sonhando e pedindo proteção e saúde, rezando pra que não me seja tirado o direito de esperar, querer, possuir e sonhar.
Afinal, sem saúde, sem paz, quando enfrentamos doenças, a morte ou uma grande desilusão, nada do que possuímos, desejamos, sonhamos ser ou ter, nada disso tem valor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sismei

Agora sismei de entender todas as letras das músicas em inglês que ouço.
Admito, meu inglês é rasteiro, básico, consigo ler textos da minha área profissional, com a ajuda do tradutor online, é claro. Entendo trechos de algumas músicas e só.
Andei ouvindo Pearl Jam esses dias, gostei das letras e das músicas que também cantei.
Fui apresentada à banda num momento conturbado e junto com outras, não dei muita atenção.
Agora, com mais cuidado, e até aqui, as letras não são rasas, todas fazem pensar.
E as versões gravadas em shows são sempre mais saborosas.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Ganhei o dia

Ganhei o dia, o mês, a vida toda.
Meu filho é uma criança linda, é carinhoso, simpático. Está aprendendo as primeiras palavras.
Unindo os dois, ser afetuoso e falar: Estamos brincando de bola, eu, ele e o pai. Ele para, olha bem nos meus olhos e diz "mamãe" e vem ficar pertinho de mim.
É claro que ele já diz mamã faz tempo. Especial foi a maneira como ele disse.
Pronto, ganhei o dia. Bastou aquele olhar, de me reconhecer e, parece até, de entender o que eu significo na vida dele.
"Oi, meu amooor", sim meu filho, a mamãe está aqui.