quarta-feira, 23 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Finalmente assaltados

Aconteceu assim.
Chegamos cedo à praia, por volta das oitos horas da manhã, deixamos a sacola e a chave do carro na barraca como de costume e fomos para a beira da praia.
A areia acumulada mostrava que a maré já tinha estado alta e havia baixado bastante, formando aquelas deliciosas piscinas que todos adoram.
Poucas famílias. Escolhemos uma poçinha e ficamos lá. Davi brincando na água e nós sentados brincando, conversando, lambendo a cria.
Um rapaz alto, de boa aparência, bermuda de surfista, passou umas duas vezes por nós olhando para mim e a impressão que tive é de queria perguntar alguma coisa, um turista talvez.
Minutos depois, o rapaz veio andando nas costas do Eduardo e mostrou uma faca.
Eu vi e não tive reação, quando quis dizer alguma coisa, ele já estava com a faca no Eduardo e quase cochichando:
- Passa as alianças, as alianças.
Um comparsa que estava às minhas costas, arrancou a corrente do meu pescoço.
- Abre a sacola.
Abri a bolsinha que continha o lanche e brinquedos do Davi, e a câmera fotográfica e o celular dentro de um saco plástico escuro.
- É o lanche do menino - assim o Eduardo os distraiu e evitou que investigassem melhor o conteúdo.
E foram-se com nossas alianças, compradas há quase vinte anos e meu cordão com pingente em forma de estrela que ganhei no primeiro dia das mães.
Sorte o Eduardo ter deixado em casa o escapulário que dei a ele de presente e que ainda nem começei a pagar.
Não foram violentos, um disse ao outro que não mexesse nas coisas da criança.
Ladrões respeitosos, ironia.
Logo em seguida ligamos para a polícia que não os localizou, mas se fez presente.
O louro já é conhecido do local.
- Anda agindo por aqui, disse o garçon da barraca.
Fiquei chateada, disse palavrão, mas ficamos por lá ainda, Davi estava se divertindo e pra lá eles não voltariam no mesmo dia.
Resta agradeçer por não termos sofrido violência física, por não terem reparado nos meus brincos, por não terem encontrado a câmera e o celular, e por terem deixado a medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças.
Praia agora, sem nenhum adereço, nem alianças.
É, o excesso de confiança me fez ignorar esses cuidados.
Primeiro assalto, e último, assim espero.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Amigas mães, amigos pais

Quando nossos amigos têm filhos e nós também, as conversas sempre começam, e às vezes terminam, nas notícias sobre os pequenos.
É claro que quero saber se o amigo, a amiga está bem, como estão as coisas em casa, com a família, no trabalho, mas acabamos falando unicamente dos rebentos. E trocando nossas experiências sobre a educação e a saúde deles.
Mãe só sabe falar dos filhos?
Ainda grávida, conversava com um amigo e falava, falava do Davi e da gravidez.
- Tô ficando chata né? Só sei falar do Davi.
- A boca fala do que o coração está cheio.
Pois é Jorge, e o coração da mãe aqui transborda amor pelo filho.
Não é que não existam outros interesses, existem, mas os filhos imperam.
Porque eles nos alimentam com novidades todo dia, toda hora, uma nova palavra, uma nova atitute, uma doença não tão nova, novas descobertas.
Nossas vidas de adultos vão assim, num ritmo mais lento, previsível até, e é bom que seja assim.
Mas a deles está em plena ebulição, e numa fase em que nós estamos em primeiro plano, somos requeridos, questionados, exigidos, a todo instante.
Por isso não se chateeim se eu perguntar pelos seus filhos, antes mesmo de perguntar sobre vocês.
A pergunta pode não ter sido feita, mas está dentro da outra, o interesse por eles é consequência do carinho por vocês.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Morte em Veneza


Morte em Veneza, Thomas Mann.
Devo admitir que uma resenha prejudicou muitíssimo minha leitura.
Mais precisamente o primeiro parágrafo desta Recanto das Letras que, logo de cara, apresenta o livro como uma forma do autor exteriorizar sua preferência sexual.
Assim, passei grande parte da leitura à espera de uma relação homossexual concretizada, e menosprezei tudo mais, tanto mais que havia e só percebi isso no fim.
Ora mas porque indicar aqui algo que atrapalhou o que poderia ter sido uma ótima leitura?
Porque você não será tão influenciável e não será tão moralista e preconceituoso como eu.
E poderá aproveitar bem essa obra maravilhosa, que nas palavras desta mesma resenha, nos leva "para dentro da mente de Aschenbach/Mann, onde escutamos os seus pensamentos e descobrimos os seus traumas, anseios, dúvidas e desejos. E contradições."
Acho que só poderei me redimir lendo-o novamente daqui a alguns anos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Notícias para Lucinha

Eduardo está com virose, foi ao hospital tomar soro e medicação.
Davi está com febrinha de sapo, vamos ver o que vem por aí.
Mamãe reclama ora de pressão baixa ora de pressão alta, está preocupada com o processo de aposentadoria.
A babá, com infecção urinária, faz um drama medonho - tomando antibiótico.
E eu? Eu estou usando aquela bata florida que você me deu, lembra dela?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Eles eram muitos cavalos, cumprindo seu duro serviço


A protagonista é São Paulo.
Histórias desconexas de habitantes da grande metrópole contadas num jato, sem ponto, sem vírgula, sem descanso.
Todas nos prendem, absorvem e se bastam.
Cada uma nos diz muito dessa realidade nesse tempo e espaço delimitados.
Personagens vívidos, nitidamente plausíveis, trazem a crueza do humano.
Eu não esperava muito do livro, na verdade não esperava nada desse pequeno volume em edição de bolso que comprei junto a outros de uma lista que se torna cada dia maior.
E o que posso dizer? Leiam.

O nome do livro foi tirado do poema Romance LXXXIV ou Dos Cavalos da Inconfidência de Cecília Meireles.
Sobre o livro gostei do que li em Nova Cultura.