sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ele tem pai

A terapia me ajudou a perceber que eu estava repetindo em casa algo da minha infância e adolescência.
Mesmo antes do papai morrer ele já estava ausente do dia a dia da família, saúde, educação, carinho, valores e regras, tudo ficava a cargo da mamãe.
Quando papai estava em casa era festa, férias, novidade - papai na cozinha, papai brincando, papai levando pra escola - mas, por mais que ele ficasse conosco o tempo todo nesses períodos, não era possível dividir as responsabilidades entre os dois igualmente, por causa dos muitos meses ausente. Depois da morte dele, mamãe assumiu tudo, dividindo comigo e com Inez - as mais velhas - algumas responsabilidades.
O que só agora descobri é que eu estava tentando, como sempre costumo fazer em quase tudo, assumir totalmente a responsabilidade pelo Davi. Não permitindo ou não incentivando Eduardo a assumir seu papel de pai. Talvez porque eu não tenha essa experiência bem clara.
Mas aí é que está a incoerência, o Davi tem pai, ele está presente, porque privá-lo de ter do pai tudo que o pai pode dar?
Só eu, a mãe, sei dar o medicamento? Só eu sei contar histórias?
É subestimar demais a inteligência e capacidade dos pais, eles podem tudo, se assim quiserem.
Algumas vezes aceitamos situações que não deveríamos aceitar, afinal se pai e mãe passaram o dia no trabalho, porque a mãe faz a tarefa com o filho, enquanto o pai assiste a TV ou acessa a Internet?
Entendi que devo permitir e incentivar o Eduardo a estar presente sempre, em qualquer situação, em todos os momentos. E autoridade de pai é algo muito importante, essencial.
Não existe uma divisão rígida entre o que eu faço e o que o Eduardo faz. É claro que vai chegar um momento em que pai e filho, por serem homens, estarão mais próximos em alguns assuntos. Mas ainda não é nosso caso.
Esse é o nosso momento de fazer escolhas em favor do Davi. Chegará o tempo em que ele não precisará de nós como hoje, será independente.
Esse é o momento de pai e mãe participarem da vida do filho com uma dedicação ferrenha. Pode parecer cansativo, mas na verdade é gratificante.