segunda-feira, 31 de maio de 2010

Insondável

Ora, se eu desci até o fundo desse abismo escuro, úmido e frio,
de desespero, angústia e medo,
Se achei que não havia mais esperança nem felicidade
Ora, se às vezes me sinto tão fragilizada e sozinha
e penso coisas sem sentido
Ora, se ainda haverá motivo para chorar
E eu estou aqui para negar tudo isso
Então vem, dá-me tua mão e sigamos.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Primeira escola

Primeira escola.
Escolinha de um quarteirão!
Eduardo ficou impressionado com o lugar, grande, bonito, muito espaço, arejado.
Meu coração de mãe ficou apertado: grande demais, muitas salinhas arejadas, muitas crianças em cada salinha arejada. Meu filho perdido no meio de tantas crianças, tão quietas, caladas, comportadas, narizes escorrendo, de fraldas e descalças no chão quente no caminho entre os parques e as salinhas arejadas. Um dos meninos se afasta do parquinho, as professoras e auxiliares conversam, não se dão conta do fugitivo.
Meu coração de mãe fica apertado e aflito.
Não gostei.
É grande, tem infra-estrutura, aulas de música, biblioteca, natação, capoeira, lanche fornecido pela escola, banheiro e chuveiro em cada sala arejada, nutricionista, fonoaudióloga.
Não gostei.
Segunda escola. Bonita, nova, fazendinha, parques, piscininha, aulas de inglês, música, educação física.
Poucas salas, ambiente também aberto e arejado.
Gostei. As crianças estão com suas sandalinhas, no calor apenas tiraram as camisas, estão à vontade. Olham curiosas os visitantes. A professora erra no português: concordância verbal zero. Nesta escolinha só até os 2 anos. Dos 3 anos em diante em outro prédio.
Fomos ver. Que confusão! Os pequenos separados dos grandes por portões de ferro, muito barulho, muitas crianças num espaço pequeno. Aulas de inglês, informática, culinária.
Não gostamos.
Nova tentativa.
Escola menor, estrutura simples, área suficiente para as quatro turminhas de Infantil. Ambiente mais aconchegante. As crianças na sala entretidas, fazendo arte, parecem mais à vontade. Converso com a diretora e faço mil perguntas que ela responde pacientemente.
O coração mais tranquilo porque existem outras opções, nem todas são enormes, lotadas e assustadoras para meu menino que sai do cuidado individual para o compartilhado.
Não me importa agora conteúdo, quero que ele se sinta bem em um ambiente saudável com crianças da sua idade.
É irreal a escola tentar suprir todas as necessidades de conhecimento de uma criança.
Ilusão dos pais acharem que o contato com livros na escola os dispensa de lerem com seus filhos, que a aula de música os dispensa de tocar instrumentos, cantar e dançar com seus filhos, que a aula de esportes os livra dos passeios de bicicleta, dias na piscina, jogos de futebol.
Não quero período integral. Quero para ele o descanso e aconchego do lar depois da manhã agitada na escola.
Ainda assim, ainda que para meio período, ainda sendo pequena a escola, ainda que tenha poucas crianças para dividir os cuidados das professoras, auxiliares e coordenadora, ainda assim, e por mais que eu saiba que será melhor para o desenvolvimento dele, é tão difícil.
Primeiro  o retorno ao trabalho, deixar nosso menino aos cuidados de terceiros.
Depois que você já tem confiança na terceira, vai para a escola e para as mãos de quartas, quintas.
Dividida entre o orgulho de vê-lo crescer e o desejo de mantê-lo sob as minhas asas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Copa do mundo

Uma colega passa por mim nos corredores da empresa:
- Acabou o ano. Vem copa do mundo, depois eleições e pronto.
E falando em Copa do Mundo de Futebol.
Dirigindo para casa na hora do almoço e ouvindo no programa de rádio uma entrevista:
- Dá-se muito valor ao resultado da copa. Vai mudar alguma coisa? O câmbio vai mudar? A balança comercial, a desigualdade social, vai melhorar ou piorar se o Brasil vencer?
- Mas você sabe que o resultado da copa mexe com o brasileiro, eleva a auto-estima.
- A minha não. Eu não preciso disso para elevar minha auto-estima. Nada que um Viagra não resolva. É claro que gosto de ver a seleção jogando bem e ganhando.
- O que você achou da seleção?
- Com esse meio-campo que o Dunga convocou, acho difícil o Brasil mostrar um futebol bonito e ofensivo. Continuo achando que a melhor seleção brasileira foi a de 82 que não ganhou a copa.
E aqui no trabalho, a discussão sobre é sobre a liberação para assistir aos jogos:
- Claro que devemos ser liberados. - diz uma colega.
- Mas você nem gosta de futebol.
- Não gosto mesmo, mas copa do mundo é diferente.
- Não é futebol?
- Não, é carnaval.
Aqui para nós, acho que ela tem razão. É mesmo um carnaval o que fazemos por aqui para acompanhar os jogos da seleção brasileira.
Lembro da copa de 82, era menina e gostava de assistir futebol com o papai.
Fiquei triste quando a seleção perdeu aquele jogo.
Mas hoje não sei quem são os convocados, provavelmente nunca os vi jogar, pois a muito não acompanho os jogos dos campeonatos brasileiros e muito menos dos estrangeiros.
Mas conheço as regras do jogo e gosto de assistir, é questão de me atualizar.

Recarregue ...

Temos um celular extra que fica em casa.
Diferente dos demais este é pré-pago.
Mamãe queria levá-lo para pedir o táxi na volta do consultório médico.
- Neusa precisa recarregar.
Coloco na tomada para carregar. Chegando em casa, celular carregado, tiro da tomada e deixo em cima da mesa.
No dia seguinte, na hora do almoço, lá está o celular de novo na tomada.
- Que marmota é essa?
Tiro da tomada e coloco novamente em cima da mesa. Guardo o carregador.
De noite, novamente o celular ligado na tomada.
Tiro e pergunto pra mamãe:
- Mamãe, você colocou o celular pra carregar de novo? Já estava carregado.
- Mas Neusa, quando eu tento ligar, uma mensagem diz que é preciso carregar.
O carregar que ela ouviu foi com relação aos créditos.
Para alguns pode parecer óbvio, mas não é.
Rimos muito da situação, mas fica a lição, nem tudo que para mim parece óbvio, é óbvio para o outro também.
Melhor explicar direitinho para não haver mal entendido.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Aventuras do fim de semana

Imagina uma aventura num supermercado? E num restaurante?
Conseguiu?
Imagine uma criança saudável, que adora correr, explorar, falar, que fica quieta apenas os minutos necessários para devorar alguma comida e parte para outra aventura.
- Laranja! - e já está do outro lado.
- Mamão! - e corre pra detrás da gôndola.
- Banana!
- Côco! Côco! Côco! Côco! - até a mãe correr em seu auxílio.
- Tá certo filho, vamos levar o côco, deixa a moça cortar.
E corre o menino atrás da moça.
- Não filho, aí só funcionários.
Repete o que eu digo e continua. Que importa que é só pra funcionários se ele também quer entrar. Garantir o seu côco.
E a vovó a muito sem fôlego:
- Esse menino não para, está muito danado Neusa.
- Mamãe vá se sentar um pouco que eu termino as compras com ele.
Coloco o menino em cima do carrinho e tento distraí-lo com um pão.
Depois recorro a um brinquedinho do Ben 10.
Não gosto desses brinquedos de supermercado, com pirulito e balinhas dentro, mas preciso terminar as compras.
Ainda bem que ele só quer brincar, não gosta dessas guloseimas.
- Casa, casa.
Já está cansado o menino, com fome, come uns biscoitinhos e quer voltar pra casa.
Termino as compras e levo meu chumbinho no colo.
No dia seguinte, pizza com amigos.
E corre, e diz boa noite várias vezes pra moça que nos recebeu na entrada.
E vai em direção à rua.
- Davi. - grito e corro para pegá-lo.
Explora todo o restaurante, fala com todos, que em suas mesas já saboreiam suas pizzas.
- Pita, pita. - quase pega um pedaço de pizza alheia.
- Davi, não. A nossa pizza já está chegando. Vamos pra mesa. Papai está esperando.
- Pita, pita, pita.
O garçon traz o suco. Ele toma.
- Pita, pita.
Encontra outras crianças e se une a elas na tarefa de destruir a decoração do restaurante.
Pedrinhas no lixo, números das mesas trocados.
- Vamos Davi, sentar um pouco, conversar com tia Helane e tio Érico.
A prima Júlia está lá, mas não posso falar com ele, Davi já saiu.
Uns minutos de descanso quando a pizza chega. E come rápido.
- Meu filho mastigue, você vai engasgar. Está bom Davi, já é bastante, não filho?
Corre de novo pra saída. Pega uma flor.
- Dê pra tia Helane.
Dá a flor e fica envergonhado.
Dá o beijo de despedida e esconde o rosto.
Essa é nova, Davi tímido!
E me dá muitos beijos. Só ouço alguém que passa e diz: -Ô amor!
Aproveitar enquanto as aventuras são conosco e eu, sua mãe, sou o amor de sua vida.
Você imaginava que um supermercado podia ser cenário de uma aventura? E um restaurante?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Do bem

Bem que eu queria estar certa e ele errado.
Eu ser assim, sincera, verdadeira, íntegra.
E todos os outros também.
Estão na Internet para divulgar seus escritos, suas fotografias, sua arte, livros, músicas, sites preferidos.
Na boa-fé. Compartilhar.
E pronto.
Sem segundas intenções. Nada de mal.
Mas eu confesso, acho que ele tem razão.
Não dá pra saber.
Bom é conhecer as pessoas, conhecer nome, sobrenome, família, amigos, onde trabalha, eposa ou marido ou namorada ou namorado, os filhos, o time do coração, os interesses, a religião.
Tudo isso assim, cara a cara, pra saber se vai ser amigo ou amiga, se é de confiança.
Quem está na chuva é pra se molhar.
Eu não quero me molhar.
Só quero conhecer gente boa, como eu.
Pra quem eu possa dizer de mim.
Meus escritos e fotos estão aí.
Mas só para os do bem.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Flores da vovó Zaré

Igual mas diferente

Ela ama o pai. Não gosta de dizer amava porque em sua memória ainda vive e é amado.
Mas não, não queria um marido como ele.
Seu pai passava longos meses viajando, embrenhado em áreas rurais, comprando e vendendo, demarcando, construindo.
Todas as responsabilidades do dia a dia cabiam a mãe.
Muito sozinha. Família são pai, mãe e filhos.
Em uma época pré-celular, as comunicações com o pai eram por recado e rádio amador e sempre na urgência de não ter o da semana seguinte.
Despesas mensais eram pagas na volta do pai, 6, 9, 10 meses de uma só vez.
Por isso prometeu ser independente financeiramente.
Queria um marido, que além do amor, aquele mesmo que os pais sentiam um pelo outro, dividisse as alegrias e chateações do dia a dia, nos detalhes mais comezinhos: o que servir na refeição, escolha da escola do menino, pagar as contas do mês, cor do forro do sofá, notas do boletim, férias, abastecer, consertar, abrir o vidro de azeitona. Umas decisões e atribuições para um, outras para outro. As importantes decididas em comum.
Mas sim, com todo aquele amor desmedido e despudorado do pai.
Queria que cada retorno ao fim do dia fosse como o retorno de longos meses de separação.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Autor não divulgado

Outro dia, Eduardo me deu pediu para revisar e formatar um trabalho de faculdade. Depois de ler, foi até fácil eleger os itens e subitens, dar títulos, organizar em uma ordem lógica.
Montar a bibliografia é que foi frustrante.
O trabalho foi uma montagem das pesquisas dos cinco integrantes da equipe e Eduardo havia me adiantado que muita coisa tinha sido copiada da Internet.
O mais óbvio e que eu pensei não dar resultado, foi copiar parte dos textos no Google.
E não é que estavam lá, copiados iguaiszinhos dos sites mostrados na lista de respostas às minha pesquisas.
Próximo passo: procurar o autor para uma bibliografia em que constasse o nome do autor, o título do texto, o título do site e o link.
Vamos lá:
- Será que o site citou a fonte?
- Não.
- Será que um dos sites listados é de alguma instituição séria ou algum especialista no assunto que citou a fonte? - Não, pode ser até sério e especialista, mas não informou a fonte.
Senti na pele a importância de informar quem escreveu aquelas palavras que estamos reproduzindo e de saber quem escreveu aquilo quando procuramos alguma informação na Internet.
Numa reportagem que li hoje, Robert Darnton coloca em palavras o que senti nessa tentativa de atender a um pedido de meu marido e fazer daquela porção de textos reunidos algo digno de ser chamado trabalho de faculdade (não se preocupe eu cito a fonte e autor direitinho no final):
"Seja qual for o futuro, ele será digital", resume Darnton. Segundo ele, deve-se olhar para o futuro digital com adesão crítica, sem nunca deixar de olhar pelo espelho retrovisor. A internet, como toda inovação tecnológica, apresenta-se, ao mesmo tempo, com bênção e maldição.
    Para Darnton, ela tem a largura de uma galáxia e a profundidade de um dedo. Embora útil na maioria das situações, tornou-se a maior fábrica de rumores da história, na qual afirmações falsas estabelecem sua veracidade pelo peso das infinitas repetições.A maioria dos sites faz um trabalho muito ruim ou inexistente no sentido de documentar suas fontes ou oferecer referências básicas. Todas as informações vêm com uma forte embalagem de onisciência - ou seja, toda narrativa se passa como se fosse destituída de fonte.

Assim sendo, no lugar destinado ao sobrenome e nome do autor coloquei "autor não divulgado".

A reportagem citada acima está na edição de 5 de maio de 2010 da revista CartaCapital, coluna Plural, intitulada O Cheiro do Saber por Elias Thomé Saliba e trata do livro "A questão dos livros" de Robert Darnton.