terça-feira, 11 de maio de 2010

Igual mas diferente

Ela ama o pai. Não gosta de dizer amava porque em sua memória ainda vive e é amado.
Mas não, não queria um marido como ele.
Seu pai passava longos meses viajando, embrenhado em áreas rurais, comprando e vendendo, demarcando, construindo.
Todas as responsabilidades do dia a dia cabiam a mãe.
Muito sozinha. Família são pai, mãe e filhos.
Em uma época pré-celular, as comunicações com o pai eram por recado e rádio amador e sempre na urgência de não ter o da semana seguinte.
Despesas mensais eram pagas na volta do pai, 6, 9, 10 meses de uma só vez.
Por isso prometeu ser independente financeiramente.
Queria um marido, que além do amor, aquele mesmo que os pais sentiam um pelo outro, dividisse as alegrias e chateações do dia a dia, nos detalhes mais comezinhos: o que servir na refeição, escolha da escola do menino, pagar as contas do mês, cor do forro do sofá, notas do boletim, férias, abastecer, consertar, abrir o vidro de azeitona. Umas decisões e atribuições para um, outras para outro. As importantes decididas em comum.
Mas sim, com todo aquele amor desmedido e despudorado do pai.
Queria que cada retorno ao fim do dia fosse como o retorno de longos meses de separação.

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