sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mínimo

E se eu disser que sempre que alguém me olha insistentemente - acontece às vezes - eu ficou tentando descobrir porque?
Será que estou com o rosto sujo, o cabelo assanhado, tem uma meleca pendurada no meu nariz, e depois de verificar quase tudo e não encontrar nada de anormal, eu fico me perguntando:
- O que foi que aquela criatura viu aqui?
Talvez me conheça de algum lugar e eu não me lembro dele.
Acho que não corro o risco do erro que o mfc descreveu em seu pensamento do dia.
hehehe

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Chuva

O calor abafado já anunciava.
O céu escureceu e enfim caiu a chuva.
Céu cinza, vento forte.
Chuva ao som de Madredeus.
Mas eu tinha que vir de calça branca?

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Veredito

Eu devia ter prestado mais atenção, fui negligente, ignorante.
Devia saber que todo aquele mal estar que eu sentia não era passageiro, nem era da gravidez.
Devia saber que podia estar afetando meu filho.
Tinha que saber mais que qualquer médico especialista.
Não devia ter confiado no obstetra que me atendia por telefone.
Devia ter ouvido minha mãe e ter ido logo em busca de auxílio médico.
Podia ter evitado sua morte, podia ter salvo sua vida.
Porque eu era a mãe.
Culpada. Esse é meu veredito.
Não importa que eu quase tenha morrido.
Não importa que tenham se passado 13 anos. Que passem 20, 30, 50 anos.
Ainda me sentirei culpada.
Porque era eu a mãe.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Irmã mais velha do mundo

Irmã mais velha do mundo.
Pois sou eu.
A caçula tinha oito anos e fez uma linda cartinha, desenhada, com letra caprichada, para desejar feliz aniversário a irmã mais velha que completava quinze anos.
Até hoje acredito que a intenção era dizer que eu era a melhor irmã mais velha do mundo.
Mas o melhor se perdeu e a frase ficou assim.
Desde então essa é nossa piadinha, eu sou a irmã mais velha do mundo dela.
Lembro dela dizer que eu seria uma excelente mãe, enquanto eu passava aos mãos em seus cabelos, tão lisos e finos, num carinho gostoso, de aconchego.
E pequenina no colo do Eduardo que sempre levava agrados, enquanto eu de cara fechada, enciumada por não querer dividir a atenção do namorado.
Ela cresceu, ganhou o mundo. Está em Portugal com o marido, estudando os dois, e muito.
Sou fã dela, dos seus escritos, do que diz, da sua beleza, do que veste, e de quase tudo que faz - para algumas poucas coisinhas o cuidado de irmã mais velha pesa mais.
Que saudade da Juribreca!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

19 de janeiro

Ela nasceu no dia em que eu perdia meu primeiro filho.
Filha de um grande amigo.
Ontem foi seu aniversário. 13 anos.
- Lívia, é a Neusa, lembra de mim? Amiga dos seus pais, mãe do Davi.
- Lembro sim. - me disse ela num vozinha alegre de menina.
- Hoje é seu aniversário não é? Parabéns!
- Obrigada.
- E vai ter festa?
- Não, vou para o cinema com as minhas amigas.
- E mamãe e papai?
- A mamãe vai também. O papai não né? Por favor.
- hehehe Tá certo, programa de meninas.
Qualquer dia passo lá para dar um beijo nessa menina-moça e para o Davi fazer bagunça na casa alheia.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Vôo Cego

Abri os braços e me atirei, certa vez.
Acreditei que a queda não tivesse fim e que seria sempre a vertigem gostosa e a alegria de voar.
Tão breve vôo, logo me vi estendida ao chão.
Uma dor que parecia não teria fim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Pernas finas

Vim de saia. De tarde vou passear com o Eduardo, por isso vim mais arrumadinha.
No banheiro da empresa, no espelho que ocupa toda uma parede, me vejo inteira.
- Como minhas pernas estão finas! Será que é efeito da saia de pregas?
- Eu devo ter emagrecido um pouco mais.
- E o chefe já me chama de sibite baleado. Será que ele tem razão?
Olho de frente, de lado, tento me ver de costas.
Para os padrões atuais de rechonchudice, eu não sou mesmo nada fornida.
Bem, acho que para alguém que vive de dieta, sempre correndo, que só descansa quando deita à noite para dormir, não podia ser diferente.
A maioria das mulheres se preocupa com os gramas a mais.
As minhas insatisfações estéticas são outras tantas e algumas eu tento melhorar (as que são possíveis sem cirurgia).
Mas achar as pernas finas é novidade!

sibite baleado significa pessoa muito magra ou pequena (sibite é um pequeno passarinho).

O mundo é meu, é seu

"Deixa de manha de noite e de dia
Toda criança diz que tudo é seu
Hei, menino! Hei, menina! Larga disso, lagartixa
Que nessa ciranda o mundo inteiro é meu, é seu, é meu, é seu

Como uma vez tinha um tatu bolinha
Mais outra vez nasceu um monte de grãos
Mais o amigo, mais a prima, o colega, a vizinha
E nessa ciranda o tatu bolinha virou bolão, balão, bolão, balão...

E nessa ciranda o mundo inteiro é meu, é seu, é meu, é seu
E nessa ciranda o tatu bolinha virou bolão, balão, bolão, balão"
Cirando - Palavra Cantada (www.palavracantada.com.br)

Ouvindo músicas infantis com Davi e toda família. O DVD do show do Palavra Cantada é ótimo.
Davi adora e eu também.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Biscoito

Missa especialmente organizada para crianças.
Sentadinhas no chão, perto do altar, assistindo ao teatro de fantoches as maiorzinhas, e brincando as menores.
Davi sobe as escadas e fica pertinho do padre.
Vou tirá-lo e o levo para o lado, onde não atrapalhe a atenção dos demais, e lá está a mesa com os apetrechos da comunhão - água, vinho, cálices cheios de óstias.
Davi olha, estende os braços e diz: - Coitchu, coitchu, nhame, nhame.
Ele achou que eram biscoitos e queria comer.
Saí com ele no colo em direção ao pai, rindo e contendo a gargalhada.
Rimos muito e demos a ele os biscoitos que ele pedia, não as óstias claro.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Auto-estima

Descobrindo como educar meu filho para que ele tenha agora e no futuro uma auto-estima elevada.
A minha foi diminuída, e agora eu preciso descobrir como recuperá-la.
Não é só resultado da forma como fui educada, mas da minha personalidade e de como digeri o que recebi.
Uma combinação não muito feliz.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Saudades da Várzea


Rita

Não gosta que eu a chame de dona Rita.
- Pra que esse dona? Rita!
Conheceu Ramires numa viagem à cidade de São Paulo. Paixão à primeira vista.
De volta à Fortaleza sofreu um grave acidente que quase a deixou paralítica. A empresa a mandou para hospital em Brasília. Quatro meses e três cirurgias depois estava andando.
Ramires quando soube do acidente veio vê-la. Casaram-se.
Mesmo contra as recomendações médicas, engravidou. Gravidez de risco, nove meses em repouso.
- Você tem vinte minutos por dia para se levantar, tomar banho, caminhar.
Nasce Igor. Fim do desconforto e da dor. Que alegria, uma criança linda e forte.
Com um ano e três meses Igor perde o pai. Ramires morre de infecção hospitalar depois de se submeter a uma cirurgia simples, de recuperação rápida. Em sete dias deveria estar em casa. Não voltou.
Sozinha, aposentada por invalidez, trabalha vendendo jóias e artesanato, e cuida do filho.
Igor tem hoje vinte e três anos, trabalha, estuda, está noivo.
- E se vira sozinho numa casa.
Mostra fotos: Ramires, um belíssimo jovem, e Igor, bêbe de nove meses, fofíssimo.
Eu sento ao lado dela:
- Rita, vim lhe pagar.
Foram toalhinhas, panos de prato, que comprei para alegrar a casa no Natal.
Pergunto pelo filho, ela me conta sua história. E que história!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Moda

Vem a garota caminhando em direção à Beira Mar. Corpinho bem feito, cabelos grandes presos num rabo de cavalo.
- Eca o que é isso? Uma nova moda? Os bolsos do short curtinho estão à mostra.
Duas moças e um rapaz caminhando ao meio dia, fardamento da empresa, indo ou de volta do almoço.
- Que óculos escuros enormes! Rostos tão pequenos com óculos tão grandes. Nova moda! Tem que seguir?
Chega a colega de trabalho, curva-se para apanhar o papel que caiu no chão.
- Minha nossa, que vestido curto. No trabalho?!? Vi tudo aquilo que os colegas adorariam ver. No mínimo deselegante!

Algumas modas eu não engulo.
Minisaias e minivestidos curtíssimos, shorts com os bolsos aparecendo, blusas muito decotadas - frente ou trás-, óculos enormes do tipo besouro.
Não sou tão jovem, nem tão magra, nem doida o suficiente.
Nem tudo fica bem.
De certo ponto da vida em diante poucas roupas caem realmente bem.
Não sou muito vaidosa, nem muito caprichosa no vestir.
Já fiz muitas vezes a promessa de variar mais o jeans e a camiseta, mas sempre volto a eles.
Na falta de tempo, dinheiro e paciência acabo optando pelo mais simples.
Tento evitar o ridículo.
Mas o que vejo por aí! Ou falta espelho ou bom senso, ou os dois.
Não, a moda não manda em mim.