terça-feira, 13 de julho de 2010

Excepcional

Mãe e filha entram no consultório onde eu, já sentada, aguardo a minha vez.
As duas de cabelos presos - os da filha numa trança caprichada, os da mãe amarrados em desalinho -, saias jeans longas e rodadas, camisas de manga curta - a da filha mais justinha e colorida -, bolsas a tiracolo.
O pai entra em seguida, de calças compridas, camisa de manga longa por fora da calça, óculos.
Pai e mãe beiram os cinquenta, talvez. A idade da filha eu não sei precisar, expressão infantil num corpo adulto de baixa estatura.
A primeira voz que ouço é a da mãe:
- Vamos começar de novo, filhinha. Esqueça o que aconteceu. Uma nova batalha e nós vamos vencê-la.
Um beijo, a filha olha e esboça um sorriso tímido.
- Mamãe e papai estão namorando - diz o pai, com carinho e atenção, para a filha criança-mulher.
- Vamos pedir ajuda a Deus e ao médico.
- Pela misericórdia de Deus vamos vencer mais essa. - diz ele, olhando ora para a filha ora para a esposa.
A filha balança a cabeça afirmativamente ou diz um sim baixinho, quase inaudível.
Calejados e resignados.
Ansiosos por conversar com o médico, buscar uma solução, uma estratégia para uma nova batalha dessa guerra permanente.
Estranhei aspecto e semblante daquela moça, e de seus pais. Aquele ir e vir dela em passos rápidos.
Estranhei o que diziam e a forma como diziam, ternos e até meio bobos.
Depois de alguns minutos ouvindo-os conversar e trocar olhares e palavras de carinho e esperança:  uma família, como tantas outras. Unidos, pegados, ajuntados, aliados nessa luta.
Vencer já venceram.
Todo dia e por muito tempo.

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