segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Vida




No momento em que soube, fiquei perplexa, não entendi, não aceitei, e logo vieram as perguntas "como?", "porque?".
Todos os amigos e colegas, principalmente as mães, ficaram inconformados com a notícia.
E todos nós, pais e mães, logo buscamos respostas para nossas perguntas de como um jovem pôde atentar contra a própria vida.

É essa a forma que temos de lidar com uma tragédia como estas: tentar descobrir respostas que nos garantam que isso não irá acontecer com nossos próprios filhos. O medo é tamanho que não podemos aceitar que não estava nas mãos dos pais evitar o que aconteceu.
          Pensei em como me senti culpada quando meu filho, um feto no sétimo mês de gestação, morreu, achava que deveria ter percebido que algo estava errado, que ele não estava bem. E imaginei o que aquela mãe estaria pensando. Esqueci, porque já faz 15 anos do ocorrido, que o primeiro sentimento é o de perda, a falta. Só muito depois comecei a pensar no meu papel naquilo tudo.
            No cemitério, chorei do momento em que cheguei até o momento em que saí, completamente esgotada, sempre pensando que uma mãe não deveria ter que passar por aquilo. Pedi perdão a Deus por ter julgado aqueles pais, cujo sofrimento é absolutamente indescritível. 
             Não esqueci o amor que sinto por meu filho um minuto sequer. É muito difícil aceitar que eles não são nossos, que não podemos poupá-los de todos os sofrimentos da vida, e que um dia voltarão a Deus. Sempre achamos que isso acontecerá muito depois de nós mesmos termos ido. Eu continuo rezando para que seja assim.
             Nos dias que se seguiram, Davi dormiu em nossa cama, perto de mim e do pai, porque nós precisávamos estar perto dele. 
             Desde esse dia, eu vou dormir rezando por este menino, por sua família e pela minha.