terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pedintes nossos de cada dia

- Filha, estou com vergonha de pedir, mas preciso de três e oitenta.
Setenta anos talvez, de óculos quadrados, roupas velhas porém limpas. Parecia mesmo sem jeito de ter que pedir.
Tirei os cinco reais que tinha na carteira e dei.
- É Deus, minha filha, só pode ser.
  Não tinha pedido a ninguém, estava sem coragem, você foi a primeira pessoa a quem pedi.
  Obrigada. - falou assim na carreira, com cara de gratidão e alívio.
- De nada. Faça bom uso.

Andava fazendo mungangos, no meio da pista, fazendo sinal para os carros passarem, com a flanela e o rodinho na mão.
Flanelinhas, esse garotos, ou nem tanto, que nos abordam nos sinais, oferecendo o serviço de limpeza dos vidros dianteiro e traseiro.
- Tia.
- Vem logo - grita o outro que vai adianta.
- Espera que a tia vai me dar o do lanche.
Tenho umas moedas separadas no carro.
- Ô um e cinquenta lindo!
Algumas pessoas que assistem do outro lado da calçada acham graça.
- E eu tia? - grita o outro.
- Dividam vocês - respondo, mas acho que nem me ouviram, já iam longe.

E espero que façam bom uso.
Se bem que o que é bom uso para eles pode não ser para mim.
Mas aí são outros cinco, outros um real e cinquenta.

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