quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Como bicho

Cabelinhos encaracolados, pele negra, pequenino, não chora quando a mãe o levanta pelo braço e lhe dá um tapa na mão. Algo como um grunhido, uma reclamação.
Feito bichos, desde muito cedo, na rudeza do trato.
Ainda quando parece chorar, um simulacro, não saem lágrimas dos olhos.
Mesmo porte, cor e cabelo, gêmeos, mas rostinhos diferentes. A menina é tratada com mais carinho.
Mãe jovem, tatuagens nas costas e pernas, roupa minúscula e colada no corpo redondo e sem cintura. Sempre séria. Não ouvi sua vez uma vez sequer. O olhar duro e o tapa eram suficientes para o adestramento.
A espera é difícil, o lugar quente, as crianças começavam a se irritar.
A menina agora é acalentada no colo, o menino recebe mais uns sopapos para ficar quieto e outro tapa por jogar no chão o bico, pela terceira vez.
Alguns, olhamos com interesse para a cena e para as crianças.
O menino recebe um carinho de um senhor que está sentado, se pai, avô, tio, não sei. Uma trégua.
Esse é que vai crescer para não saber sentir, viver na dureza, na peleja, talvez, quem sabe, um filho traga um pouco de doçura a sua vida, no futuro.
Por enquanto, é como bicho.

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