sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Carregador

Tinha muito que carregar.
Foi acumulando com o tempo.
Sentia orgulho.
De todos a quem amava, de cada um levava alguns.
Nunca o pediram e nem ele perguntou se queriam que ele os tomasse para si.
Nem precisava, era seu encargo, acreditava.
E foi ajuntando.
Confiante, inabalável.
Um dia cambaleou ante a carga, tropeçou e deixou cair, e caiu ele mesmo.
Ao levantar a cabeça, a viu, ela o olhava muito triste, magoada.
Estavam juntos nesse caminho.
Ela era seu sustentáculo, o motivo, a causa e o efeito.
E ele com muito esforço, levantou-se, machucado, dorido, e rápido ergueu o pacote.
Pediu perdão, disse que ainda tinha forças, que levaria sim, aquele bem tão precioso, sim, até o fim.
Ela, que sempre acreditou, agora duvidava.
Ele teve que admitir que era muito pesado o fardo e foi devolvendo uns pelo caminho: dos irmãos, da mãe, dos amigos.
Mas ainda assim parecia difícil, depois de tudo, penoso suportar.
Olhou para ela, olhos castanhos inquisidores.
Colheu com cuidado o volume e o devolveu.
Parecia ter compreendido que ninguém pode livrá-lo de seu fardo e ele não pode ser, não é, nem nunca foi na verdade, o livrador dos alheios.
Mas o tempo passou e ele voltou a amontoar cuidados.

Um comentário:

O Neto do Herculano disse...

Continuo a carregar meu fardo,
mesmo depois de arriado.