Pois sim, acho que demoro excessivamente para superar meus traumas, perdas, desilusões.
Não que eu fique falando deles sempre, quem sabe deles sou eu.
Estão aqui dentro bem guardados, e ninguém sabe o que significam para mim, apenas eu.
Estava hoje mesmo falando disso com a afilhada Rafaela, nova moradora da minha cidade natal, Brasília. Cidade que completou 51 anos dia 21 de abril.
A cidade da minha infância e início da adolescência, dos monumentos, parques, quadras, entre-quadras, moramos em vários lugares antes da casa de onde saímos para o aeroporto e daí para Fortaleza.
De todos tenho recordações felizes. Uma infância feliz.
Saímos de lá há 27 anos e não voltei mais. Mamãe voltou, minha irmã voltou. Mas eu não.
Porque o medo? Não pelo que vivemos lá, mas por tudo que aconteceu depois. Por causa do corte brutal. Hoje posso dizer que enquanto se tem pai e mãe, qualquer lugar é lugar, para nós pouco importava lá ou cá. Adapta-se, faz-se novos amigos.
Mas a perda que veio depois tornou a cidade, os endereços onde moramos, os lugares de nossos passeios, lembranças do pai vivo, e o vazio da falta dele desce difícil pela garganta com um nó imenso.
O despojo de tudo que era nosso quando ele era vivo. O declínio que veio depois que saímos de lá.
Não, eu não poderia ser uma turista despreocupada em minha cidade natal.
Por isso o medo. E também porque demoro excessivamente para superar meus traumas, perdas, desilusões.
Eu é que sei deles, e o que significam para mim.
3 comentários:
Deixamos sempre alguma coisa para trás na vida!!
E essas memórias acompanham-nos.
Cada conhece e é dono de sua própria dor.
Cada um tem seu jeito, não se preocupe com isso.
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