sexta-feira, 30 de abril de 2010

Não mais

Ela se achava especial.
Bonita, um tipão, alta, elegante.
Lutadora, vencedora.
Quando isso mudou?
Em que momento deixou de ser tudo isso? Deixou de se sentir assim?
Antes tinha o pai para lembrá-la sempre de como era bonita, amada.
Mas não foi logo depois da morte do pai. Mesmo depois, ainda se sentia especial, triste, menos completa, mas ainda especial.
Era preciso alguém para dizer a ela, confirmar. Não houve quem assumisse esse papel.
Ninguém, como seu pai, falava e demonstrava sem pudor, sem pejo, o amor, a admiração, que sentia.
Talvez por ela ser parte dele, algo que ele não temia perder.
Então foi perdendo o hábito, a certeza, a confiança.
Não se sente muito bem ao ser observada, elogiada. Sente vergonha, acha exagero.
Não se sente mais especial, bonita, um tipão.
O tempo maltratou, calejou.
Já não se sente especial.
Quando foi que mudou e porque ela não sabe bem dizer.
Talvez não tivesse certeza de que era especial, bonita, um tipão.
Precisava que dissessem, repetissem, confirmassem.
Talvez nem seja mesmo, mas sente falta de que alguém diga que a vê assim.

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